Sumario: | O objetivo deste trabalho é analisar a questão da viagem em poemas de dois autores portugueses: “O Sentimento dum Ocidental", de Cesário Verde e Uma Viagem à Índia, de Gonçalo Manuel Tavares. Ambos esses autores dialogam de forma explícita com Os Lusíadas, de Luís de Camões: epopeia simbólica da viagem iniciática portuguesa, emblema cultural das expedições marítimas. Dessa forma, objetiva-se mostrar o modo como a temática canônica da viagem se desdobra em diferentes sentidos, cujo surgimento se explica pelas divergências de momentos históricos e literários em que esses poetas se inserem: Cesário Verde escreveu no final do século XIX, quando se comemorava o tricentenário da morte de Camões, enquanto Gonçalo - autor contemporâneo - publica atualmente, no século XXI.
Desse modo, o trabalho se concentrará em analisar quatro aspectos que o significante “viagem" adquire no seio desses poemas. Primeiramente, a viagem será analisada no seu sentido canônico, concebida como deslocamento espacial. Em um outro momento, explorar-se-á a viagem do ponto de vista temporal, de modo a avaliar como esses dois poetas trabalham com a memória do passado e a promessa do futuro. A viagem também será pensada como trajetória interna, como um percurso que as personagens efetuam dentro da sua vastidão psicológica. Em última instância, propõe-se ler a viagem no que ela tem de simbólica e literária, ou seja, a partir do modo como os textos analisados se entrelaçam entre si e dialogam com toda uma tradição viajante: a portuguesa. Nesse sentido, objetiva-se analisar o modo como cada uma dessas facetas aparece nos dois textos selecionados, de sorte a descobrir onde as trajetórias moderna e pós-moderna se entrelaçam e onde se distanciam
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