Guetorização e globalização: um desafio para a educação matemática

Acredito que a discussão sobre a educação matemática pode ser relacionada com a discussão sobre a globalização e, portanto, também com a da guetorização, já que julgo ser esta um aspecto da globalização. Conhecimento e desenvolvimento de conhecimento podem ser vistos como coisas às quais se atribui...

Descripción completa

Detalles Bibliográficos
Autor principal: Skovsmose, Ole
Formato: info:eu-repo/semantics/article
Lenguaje:Portugués
Publicado: Universidade Estadual de Campinas 2009
Materias:
Acceso en línea:https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/zetetike/article/view/8646990
http://biblioteca-repositorio.clacso.edu.ar/handle/CLACSO/67730
_version_ 1782337005971046400
author Skovsmose, Ole
author_facet Skovsmose, Ole
author_sort Skovsmose, Ole
collection Repositorio
description Acredito que a discussão sobre a educação matemática pode ser relacionada com a discussão sobre a globalização e, portanto, também com a da guetorização, já que julgo ser esta um aspecto da globalização. Conhecimento e desenvolvimento de conhecimento podem ser vistos como coisas às quais se atribui valor. Isto é certamente proposto pela teoria do valor relativo ao conhecimento de Daniel Bell. Entrentanto, a valorização do conhecimento tem raízes profundas no movimento do Iluminismo - aqui concebido de forma ampla -, que se caracteriza pela idéia de que o progresso sociopolítico pode ser assegurado pelo progresso do conhecimento — e do conhecimento científico, em particular. Este pressuposto do Iluminismo é questionável, e agora com boas evidências, já que o conhecimento científico, incluindo o conhecimento matemático, é capaz de “maravilhas”, bem como de “horrores”. Isto nos leva a uma situação aporética com respeito ao conhecimento. Devemos abandonar a idéia de que qualquer avanço cego do conhecimento (científico) constitui um motor para o “progresso”. Como conseqüência, não podemos construir uma educação matemática com base no pressuposto simplista de que isso implicará o bem final para aqueles nela envolvidos. Dessa forma, o papel efetivo a ser desempenhado pela educação matemática dependerá dos contextos nos quais ela estará se desenvolvendo. Considero crítico o papel sociopolítico desempenhado pela educação matemática. Com isso, quero dizer, primeiro, que, o que a educação matemática está fazendo é algo que merece atenção e consideração. A educação matemática pode produzir diferenças para certos grupos de pessoas. Por intermédio da matemática, é possível estratificar e propiciar diferentes oportunidades de vida a diferentes grupos de pessoas. A educação matemática constitui um elemento indispensável para o desenvolvimento sociotecnológico. Em segundo lugar, acredito que a educação matemática é crítica, no sentido de que ela não tem uma característica essencialista que possa garantir que o seu efetivo papel sociopolítico cumpra certas funções atrativas, tais como as estipuladas nos objetivos comuns dos currículos. A educação matemática poderia servir para o desenvolvimento adicional de uma preocupação com a democracia, tentando promover, desse modo, a inclusão social. Ela poderia, entretanto, provocar a exclusão social. Isto me leva a considerar a importância da educação matemática crítica.
format info:eu-repo/semantics/article
id clacso-CLACSO67730
institution CLACSO, Repositorio Digital
language Portugués
publishDate 2009
publisher Universidade Estadual de Campinas
record_format greenstone
spelling clacso-CLACSO677302022-03-21T14:40:51Z Guetorização e globalização: um desafio para a educação matemática Skovsmose, Ole Educação matemática crítica. Globalização. Aporismo. Incerteza. Acredito que a discussão sobre a educação matemática pode ser relacionada com a discussão sobre a globalização e, portanto, também com a da guetorização, já que julgo ser esta um aspecto da globalização. Conhecimento e desenvolvimento de conhecimento podem ser vistos como coisas às quais se atribui valor. Isto é certamente proposto pela teoria do valor relativo ao conhecimento de Daniel Bell. Entrentanto, a valorização do conhecimento tem raízes profundas no movimento do Iluminismo - aqui concebido de forma ampla -, que se caracteriza pela idéia de que o progresso sociopolítico pode ser assegurado pelo progresso do conhecimento — e do conhecimento científico, em particular. Este pressuposto do Iluminismo é questionável, e agora com boas evidências, já que o conhecimento científico, incluindo o conhecimento matemático, é capaz de “maravilhas”, bem como de “horrores”. Isto nos leva a uma situação aporética com respeito ao conhecimento. Devemos abandonar a idéia de que qualquer avanço cego do conhecimento (científico) constitui um motor para o “progresso”. Como conseqüência, não podemos construir uma educação matemática com base no pressuposto simplista de que isso implicará o bem final para aqueles nela envolvidos. Dessa forma, o papel efetivo a ser desempenhado pela educação matemática dependerá dos contextos nos quais ela estará se desenvolvendo. Considero crítico o papel sociopolítico desempenhado pela educação matemática. Com isso, quero dizer, primeiro, que, o que a educação matemática está fazendo é algo que merece atenção e consideração. A educação matemática pode produzir diferenças para certos grupos de pessoas. Por intermédio da matemática, é possível estratificar e propiciar diferentes oportunidades de vida a diferentes grupos de pessoas. A educação matemática constitui um elemento indispensável para o desenvolvimento sociotecnológico. Em segundo lugar, acredito que a educação matemática é crítica, no sentido de que ela não tem uma característica essencialista que possa garantir que o seu efetivo papel sociopolítico cumpra certas funções atrativas, tais como as estipuladas nos objetivos comuns dos currículos. A educação matemática poderia servir para o desenvolvimento adicional de uma preocupação com a democracia, tentando promover, desse modo, a inclusão social. Ela poderia, entretanto, provocar a exclusão social. Isto me leva a considerar a importância da educação matemática crítica. 2009-02-16 2022-03-21T14:40:51Z 2022-03-21T14:40:51Z info:eu-repo/semantics/article info:eu-repo/semantics/publishedVersion Pesquisa bibliográfica https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/zetetike/article/view/8646990 10.20396/zet.v13i24.8646990 http://biblioteca-repositorio.clacso.edu.ar/handle/CLACSO/67730 por https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/zetetike/article/view/8646990/13891 Copyright (c) 2014 Zetetiké: Revista de Educação Matemática application/pdf Universidade Estadual de Campinas Zetetike; Vol. 13 No. 2 (2005): jul./dez. [24]; 113-142 Zetetike; Vol. 13 Núm. 2 (2005): jul./dez. [24]; 113-142 Zetetike; v. 13 n. 2 (2005): jul./dez. [24]; 113-142 2176-1744
spellingShingle Educação matemática crítica. Globalização. Aporismo. Incerteza.
Skovsmose, Ole
Guetorização e globalização: um desafio para a educação matemática
title Guetorização e globalização: um desafio para a educação matemática
title_full Guetorização e globalização: um desafio para a educação matemática
title_fullStr Guetorização e globalização: um desafio para a educação matemática
title_full_unstemmed Guetorização e globalização: um desafio para a educação matemática
title_short Guetorização e globalização: um desafio para a educação matemática
title_sort guetorização e globalização: um desafio para a educação matemática
topic Educação matemática crítica. Globalização. Aporismo. Incerteza.
url https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/zetetike/article/view/8646990
http://biblioteca-repositorio.clacso.edu.ar/handle/CLACSO/67730